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quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Pesquisa aponta que casais preferem manter relacionamento após uma traição!






Larry – Tem algo errado. Fala. Você vai me deixar? Andam se vendo?



Anna – Sim.



Larry – Desde quando?



Anna – Desde meu vernissage no ano passado... Desculpe, você é...



Larry – Não diga isso! Não venha me dizer “Você é bom demais para mim”. Eu sou, mas não diga. Está cometendo o maior erro da sua vida. Tomou banho porque tinha dormido com ele? Para tirar o cheiro dele? Para se sentir menos culpada? Como se sente?



Anna – Culpada.





O diálogo acima pertence ao roteiro de Closer, peça de teatro escrita por Patrick Marber, que ganhou popularidade após a montagem para o cinema. Ele é parte de uma história de amor, traição e mentiras que perpassa a vida de dois casais, vividos por Julia Roberts, Jude Law, Natalie Portman e Clive Owen. Pertence à cena em que Anna, personagem de Julia Roberts, conta ao marido, Larry, interpretado por Owen, que o está traindo. Enquanto ela tenta encontrar uma explicação direta, o companheiro esmiúça a traição. Quer saber os detalhes. Onde foram os encontros? Como foi o sexo? Se ela gosta de dormir mais com ele ou com o amante?



O tema da infidelidade ainda é um tabu. Muitos o tratam de forma velada, não se sentem completamente à vontade para se definir como traídos ou traidores. Embora pesquisas mostrem que homens e mulheres admitem já ter traído, a expectativa é de que os números sejam bem maiores do que o divulgado. Se é fato que a traição é um problema enfrentado pela maioria dos casais, alguns estudos mostram que ela ainda é assunto varrido para debaixo do tapete.



O Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) constatou que apenas um em cada quatro brasileiros casados espera que o parceiro seja fiel. Isso significa que 75% das pessoas casadas acreditam que serão traídas. Já a pesquisa quantitativa com 1.279 homens e mulheres do Rio de Janeiro, coordenada pela antropóloga Mirian Goldenberg, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, revelou que 60% dos homens e 47% das mulheres se confessaram infiéis.



Embora os motivos apontados por ambos para a traição sejam diferentes, a infidelidade conjugal tem sempre o mesmo culpado: o homem.



– Eles justificam suas traições por meio de um suposto instinto masculino. Já as mulheres dizem que seus parceiros, com suas faltas e galinhagens, são os verdadeiros responsáveis pelas relações extraconjugais delas. Ou seja, no discurso, a culpa da traição é sempre do homem: seja por sua natureza incontrolável, seja por seus defeitos no que diz respeito ao relacionamento – explica a antropóloga.



Segundo a pesquisa, ainda que a fidelidade seja apontada como valor indispensável à saúde da relação (deixando o amor em segundo lugar), a intolerância a traições é um mito.



– Ao contrário do que se pensa, a maior parte dos casais que passa por essa situação não se separa. A maioria tenta superar – garante o psicólogo Enrique Maia, apoiado em pesquisa realizada pela colega de profissão Arlete Gavnaric, coordenadora da Pós-Graduação em Terapia Sexual da Faculdade de Medicina do ABC, em São Paulo.



O levantamento promovido pela especialista aponta que 70% dos casais que deparam com situação de infidelidade seguem juntos. Mas o dilema que os assola diz respeito ao perdão. Palavra bonita, de significado redentor, mas de difícil execução prática. Exorcizar o fantasma da desconfiança não é fácil. Se o telefone toca, os olhos se arregalam; a cerveja do fim do dia com os amigos vira uma prova de fogo; o assunto volta a cada discussão. Retomar o relacionamento de modo sadio demanda diálogo, o que não significa detalhar a traição em miúdos, atitude dolorosa e pouco eficaz.



Estabelecer papéis de vítima e carrasco também não ajuda na recuperação. Segundo o psicólogo Enrique Maia, o traído sempre se colocará como vítima. A recomendação é que cada um busque identificar seu espaço na relação para reforçar o que uniu os dois.



– O sofrimento é inevitável, mas é possível superá-lo. Perdoar também significa lidar com a dor sempre que a traição é lembrada – reforça Enrique.





Há quem ria da própria desgraça



Ele chegou em casa e encontrou a mulher e o melhor amigo na cama. Foi em 1982. Hoje, entende que teve culpa na traição da ex.



– Eu juntava os amigos e ficava na rua de sexta-feira até segunda – lembra.



Mais nova, a companheira o traiu com um dos amigos de farra.



– Caí em decadência. Considerava ele um grande amigo. Na hora, quis matar, esfolar. Naquela época, principalmente aqui, corno só lavava a honra desse jeito – explica Pedro Soares, fundador da Associação dos Cornos de Rondônia (Ascron), órgão pioneiro na defesa dos traídos, que incentivou a criação de organizações similares em Estados como Ceará e Paraíba.



Até decidir dar novo rumo à experiência de ser traído, Pedro Soares passou por maus bocados.



– Fui até em macumbeira para ver se ela voltava. Queria a mulher de volta com chifre e tudo – lembra, aos risos.



Diante da recusa da ex-parceira, ele concebeu um novo pensamento sobre a traição: o de solidariedade.



– Tem muita gente que sofre por isso. Hoje, a associação conta com psicólogo e advogado para que o traído, além de levar o chifre, não fique pobre – diz.



A associação tem 5,8 mil filiados. Segundo Soares, há até deputados e vereadores em seu quadro. A entidade também se abriu ao longo dos anos para receber traídos dos dois sexos e de outras orientações sexuais. Antes, só homens heterossexuais eram aceitos.



– A infidelidade não escolhe. Todo mundo pode ser vítima – justifica.



Soares diz-se orgulhoso do trabalho que fez na capital de Rondônia, onde fica a sede da Ascron.



– Aqui, antes, quem era traído lavava a honra com sangue. Hoje, as pessoas preferem procurar ajuda.


FONTE:
ZERO HORA





Aceitar a infidelidade não significa perdoar. E falar sobre o assunto ainda é um tabu.

Foto:Genaro Joner

Você já teve de lidar com um episódio de infidelidade? Como reagiu?

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